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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Sobre galos, pintos e ovos...




procurei, procurei, procurei... e acabei encontrando esse texto publicado pelo Mácleim, em 2006, no blog Vestindo a carapuça.
Trata-se de uma reflexão bastante pertinente para todos nós, sobretudo, após os recentes anúncios das atrações do carnaval em Penedo.

Da coluna do Mácleim
Carnavalização


Em uma matéria na TV, alguns jovens pareciam entusiasmados com a possibilidade de um retiro espiritual durante os dias de Momo. Tudo bem, nada contra. Entendo perfeitamente tal opção. É claro que o meu entendimento vai por outra via. Confesso que houve um ano, na minha adolescência, que eu pensei seriamente nessa possibilidade e fui salvo pelo gongo da sabedoria dos meus pais que não permitiram tal bobagem. Os jovens que vi na TV pareciam saudáveis e alegres, porém, todos tinham as características das pessoas que entrariam no rol dos picolés de chuchu. Naturalmente não seria nada fora de lógica pensar que quem não possui sex appeal, não é chegado a uma embriagues, é tímido por natureza, ciumento e inseguro, realmente, não tem muito mesmo o que fazer no carnaval e é melhor evitá-lo.
Afinal, no Aurélio, o carnaval é definido como “uma festa profana, uma manifestação sincrética oriunda de ritos e costumes pagãos como as festas dionisíacas, as saturnais, as lupercais e se caracteriza pela eliminação da repressão e da censura, pela liberdade de atitudes críticas e eróticas”. Ou seja: folia, desordem, confusão, orgia. Tudo muito tentador, mas, mesmo assim, este ano vou pular fora de tanta tentação. Além de eu ter um pouco de cada uma daquelas características acima citadas, e antes que pensem que aderi a alguma religião (só faria isso se eu conseguisse entrar direto na diretoria financeira), o fato é que eu me encontro, atualmente, na confortável posição de, pela primeira vez, poder fazer o que eu quero durante o carnaval. Pode ser até sinal dos tempos, coisas de quem está na turma dos “enta”, mas, finalmente, acho que chequei à fase de poder encontrar muito mais sentido na carnavalização do que no carnaval.
Quando Mikhail Bákhtin fez a transposição do carnaval para a literatura, em 1928, criou o termo carnavalização que se caracteriza, em diferentes contextos culturais, pela inversão dos códigos vigentes, pela ambigüidade das propostas, das imagens e representações, e pela valorização da força erótica, do riso e do inusitado. A carnavalização, a partir das teorias de Bákhtin, tem sido objeto de estudo no campo da teoria literária, da antropologia, da sociologia e etc. Mesmo que minha opção, pela carnavalização, tenha semelhança com a história do camarada que levou a mulher para a moita e preferiu comer a moita, mesmo assim, foi o próprio carnaval (o nosso, em particular) que, paradoxalmente, me conduz à calmaria deliberada.
Ainda não consegui encontrar substância para, por exemplo, interagir com essa submissão aculturada do Pinto da Madrugada. Por mais que o Marcial Lima diga que estamos separados de Pernambuco apenas pela questão geográfica e que, culturalmente, somos a mesma coisa. Insisto. Não devemos ser mais uma filial de Pernambuco! Por que, ao invés de “se no Recife tem...”, não temos o bloco Sururu do Meio-dia, ao invés do Pinto da Madrugada? Sou um órfão dos Meninos Órfãos da Albânia, do tempo que podíamos (o Ricardo Mota e algumas vezes eu) escrever frevos que seguiam à risca o que dizia a letra do hino: “nós somos o bloco dos Meninos da Albânia/ mostrando na rua o que está podre no poder”. Agora, por ironia, todos os fundadores do bloco, em vários setores, estão no poder. Também pudera, com comunistas da estirpe de um Aldo Rebelo...
Mas o fato é que eu não tenho obrigação nenhuma de ser feliz, principalmente, por apenas só três dias.

Mácleim

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meus caros, eu acredito que para termos um bom carnaval não precisamos resgatar a genealogia do galináceo em questão, ratificando o que disse o Macléim sobre nossa submissão a Pernambuco, com ainda mais um agravante sócio-histórico e cultural: essa subserviência ridícula a capital do nosso Estado.

Mônica

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